O nutrir de si

Outubro rosa chegou. Mais um ano do movimento de conscientização sobre o câncer de mama.

Como vocês já sabem, gosto do símbolico, de explorar, de olhar por ângulos diferentes, considerar versões diferentes.

Sou uma sobrevivente de câncer, não de mama, mas de tireóide. Fui diagnosticada e fiz a primeira cirurgia aos 19 anos.

Demorei três anos para poder olhar para o que aconteceu comigo, procurar um significado, algo para aprender. Até então, continuei me movendo o mais rápido possível em direção ao futuro para sair daquela situação. O que era para ser apenas um tropeço, uma adversidade da vida, se tornou um dos eventos mais importantes da minha existência, o ponto de mutação.

Mas não acho que todo mundo tenha que aprender, achar significado. O processo de luta em direção à cura é individual. Existe um lugar onde reside as pesquisas, o coletivo, as intervenções, que baseadas nos dados estatísticos, aquilo que funciona para a maioria com uma certa previsibilidade.

Mas existe também a sua forma única de reagir, consciente ou inconsciente, indo da transcendência ao que acontece dentro das células do seu corpo.

A mama pode ter muitos significados. O relacionamento com o feminino, com o materno através da relação com a mãe e filhos, com a sexualidade, a erotização dos seios, com nutrir dos filhos e a si mesma.

Lendo o livro de um colega terapeuta, em um dado momento ele relaciona o câncer de mama com a dificuldade de dizer não, de se posicionar. Me espantou porque intimamente cheguei a uma conclusão semelhante com relação ao tumor que tive, eu perdi a minha voz, a capacidade de me expressar, de reagir.

De novo, existe uma linha muito tênue aqui. Sim, gosto de pensar que é importante ter voz, não seguir nutrindo todos ao redor, estabelecer limites firmes que não devem ultrapassados para manter a saúde física e mental. Acredito sim que adoeci pelo desequilíbrio entre dar e receber.

Mas ao mesmo tempo, não dá para assumir toda a responsabilidade de um evento multifatorial.

Sim, mulheres, anos e anos de violência e opressão em todas as esferas, do político à unidade familiar, tendo de ceder, entender, aceitar, engolir, esconder, reprimir, com certeza absoluta não fez e não faz nenhum bem a nossa saúde.

A minha experiência com câncer me fez dizer não com muito mais frequência, me deu muita coragem para largar tudo o que me causava dor. Eu larguei tudo e todos. Resgatei a minha voz, a minha identidade, a minha sexualidade. Aprendi a me colocar em primeiro lugar.

Vamos fazer um exercício diferente neste mês? Dizer não, se cuidar, se tocar, se nutrir.

Que a sua mama simbolize a sua relação consigo, o seu papel de mãe de si mesma.

Mãe que cuida, que alimenta, que aquece, que dá colo.

No meu estúdio virtual, criei Mama: Manual do Proprietário. Vai lá, tem informações, um diário para a mama, e você poderá se inscrever gratuitamente na aula aberta: Abrindo o peito. Venha participar!

Para as mulheres que estão em qualquer ponto desta jornada da luta contra o câncer de mama, sejam bem-vindas a esse espaço. Ofereço gentileza, escuta do corpo, observação do corpo e da mente, respeito aos limites, sensibilidade, movimento, equilíbrio e nutrição. Espero que encontre algo que te interesse no conteúdo e atividades que a Mayoli trará neste mês. Venha participar da aula aberta, será importante trabalhar com autoimagem, a percepção e o sentir de si.

Espero você! ❤️

Thais Bicalho